Related Posts with Thumbnails

sábado, 13 de junho de 2009

A arte de reaproveitar

Annaclara Velasco

Na contramão da indústria, diversos artesãos reutilizam o lixo em seus produtos, beneficiando o meio ambiente, produzindo arte e garantindo uma ajuda no orçamento familiar. Reciclam não só o lixo, como também a autoestima e a consciência.

Os grupos "Mulheres que Acontecem", "Lixoiô" e "Mulheres do Salgueiro" procuram resgatar a identidade cultural da comunidade onde vivem, capacitar a população através de cursos, gerar renda para pessoas que antes não tinham perspectiva de vida e mostrar que elas têm talento. Tudo isso com o apoio do Sebrae.

Segundo Damaris Gomes da Silva, gestora do projeto Empreendedorismo Social, o trabalho tem como objetivo guiar e capacitar estas entidades.

"O importante é que estas mulheres possam projetar seu futuro, ser empreendedoras não só na vida profissional, mas na vida social. Queremos causar impacto na geração de renda, dando o instrumento de trabalho", esclarece.

Ana Maria Sacramento, de 58 anos, formou "Mulheres que acontecem", em 2002. Ela queria fazer alguma coisa para aumentar a renda e ajudar as mulheres de sua comunidade. Começou fazendo oficinas que ensinavam a fazer unhas, crochê e tricô para um grupo de cinco mulheres. Aos poucos, o grupo cresceu e hoje mais de 20 mulheres participam das oficinas. Na sala de sua casa, onde fica o ateliê, ela oferece cursos de bordado, ponto cruz, bijuteria, crochê, trançados em fita, tricô e ponto russo. Tudo com material doado. A mensalidade dos cursos é simbólica: R$ 1 e um quilo de alimento, que são distribuídos para quem estiver precisando.

"Quem nos procura são senhoras que não sabiam fazer nada. No início, elas achavam que os produtos feitos eram feios, que ninguém compraria. Eu quis mostrar a capacidade que cada uma tem de produzir coisas bonitas e organizei um bazar com o que produzimos. Todas as peças foram vendidas no Natal e com o dinheiro arrecadado fizemos uma ceia. Foi um orgulho muito grande para todas nós", lembra Ana.

No "Lixoiô", algumas das mulheres, depois que entraram em contato com o artesanato, sentiram vontade de retomar os estudos. O grupo tem 15 anos e teve início através da iniciativa da agente comunitária Iolanda Rodrigues Pinheiro, de 55 anos. O objetivo é trabalhar a educação ambiental e o "lixo" como um diferencial dos produtos.

Garrafas pet, anéis de latinha, restos de tecidos e cartões telefônicos descartados ganham vida no formato de bolsas, estojos e portas-moedas. A ideia interessou a um grupo de ingleses que, depois de ver o trabalho em uma feira, encomendou diversos modelos para levar para a Inglaterra.

O "Mulheres do Salgueiro", que foi "adotado" pela ONG Comunidades em Ação, surgiu exatamente para melhorar a perspectiva de vida das mulheres que trabalhavam no lixão de São Gonçalo. A creche onde estudava o filho da coordenadora do grupo, Janete Nazareth Guilherme, convocou uma reunião de pais devido a um surto de doenças. Durante a conversa descobriram que as mães iam trabalhar no lixão e traziam enfermidades para dentro de casa. A partir daí, foi feito na comunidade um trabalho para aumentar a escolaridade, a autoestima e qualificar essas mulheres, para que elas tivessem uma condição melhor de trabalho e pudessem mudar sua própria realidade. Foi quando Janete teve a ideia do grupo, que surgiu há três anos, para resgatar a identidade local e o valor cultural e elevar a autoestima através da geração de trabalho e renda.

Tecidos descartados pelas fábricas têxteis são usados para fazer brincos, broches e prendedores de cabelo. Elas também fazem blusas e sacolas recicláveis com desenhos de coisas típicas do Salgueiro como o lixão, o jacaré e a praia de Itaoca, com o objetivo de apresentar um outro lado da comunidade. Recentemente, o grupo fechou uma parceria com a universidade PUC-Rio, que irá capacitá-las para a produção de artesanato com o couro da tilápia. Além de reciclar o que seria lixo para os criadores do peixe, o grupo também terá a preocupação de certificar que a água usada no processo de limpeza do couro será devolvida ao meio ambiente sem conter impurezas que possam contaminá-lo.

Ligado à ONG Guardiões do Mar, o artesão Adenilson Araújo faz objetos de decoração usando fibras naturais. Ele aprendeu a técnica com um nativo, quando morava na Bahia, e hoje produz para a ONG e dá aula.

O Fluminense

Nenhum comentário:

Postar um comentário